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O SONO EM IDADE PEDIÁTRICA: RECOMENDAÇÕES RELATIVAS À SUA DURAÇÃO

O sono é um aspecto essencial da saúde e bem-estar do ser humano. Em idade pediátrica existe evidência, tanto de estudos laboratoriais como de observação clínica, de que uma duração de sono insuficiente e/ou uma má qualidade do sono conduzem a sonolência diurna, a distúrbios do comportamento e a comprometimento das funções neurocognitivas envolvendo a aprendizagem, a memória e aquelas associadas ao córtex pré-frontal como a atenção e outras funções executivas.

Sabe-se que a perda de sono e a sua fragmentação afectam de modo directo o humor e a sua regulação, com irritabilidade e distúrbios na modulação dos afectos. As manifestações da privação de sono infantil são variadas, desde os vulgares sinais de sonolência como esfregar os olhos ou deitar a cabeça sobre a mesa de trabalho, a comportamentos externalizantes como aumento da impulsividade, hipercinetismo e agressividade, bem como distracção e incapacidade para concluir tarefas. A privação de sono afecta também a execução neurocognitiva com diminuição da flexibilidade do pensamento, do raciocínio abstracto, da destreza motora e da memória.

Além das consequências sobre o neurodesenvolvimento e o comportamento, os distúrbios do sono na infância têm ainda sido associados à ocorrência de patologia orgânica do foro cardiovascular, imunológico, do metabolismo da glicose e da função endócrina, nomeadamente com risco aumentado de excesso ponderal/obesidade e de hipertensão arterial. Há ainda uma associação claramente estabelecida com o aumento de lesões acidentais.

A disrupção do sono infantil e juvenil tem, acrescidamente, efeitos deletérios nos pais, aumentando nomeadamente o risco de depressão materna e de disfunção familiar.

O sono é, portanto, um aspecto que não deve ser descurado, tanto em crianças e adolescentes com um neurodesenvolvimento e comportamento normativos como naqueles com patologia deste foro.

A Academia Americana de Medicina do Sono (American Academy of Sleep Medicine – AASM) publicou recentemente (J Clin Sleep Med 2016;12(6):785–786) uma declaração de consenso relativa à quantidade de sono recomendada em populações pediátricas. Estas recomendações foram subscritas pela Academia Americana de Pediatria (American Academy of Pediatrics – AAP), que estimula os pediatras a abordarem estas recomendações bem como hábitos de sono saudáveis nas consultas de promoção de saúde infantil e juvenil.

O painel de peritos em medicina e investigação do sono começa por referir que um sono saudável compreende uma duração adequada, a horas apropriadas, de boa qualidade (sem interrupções), regular e a ausência de distúrbios do sono. Entre estas características, a duração do sono é um parâmetro frequentemente utilizado em investigação de sono relacionada com a saúde. Deste modo, para proporem estas recomendações, os autores realizaram uma metódica revisão da evidência científica relativa à duração de sono promotora de uma saúde óptima, dos 0 aos 18 anos. O painel de peritos focou-se na melhor evidência científica entre a duração do sono e diversos aspectos da saúde como saúde geral, cardiovascular, metabólica, mental, função imunológica e neurodesenvolvimento.

Os autores concluíram que a evidência científica actual corrobora as recomendações gerais de um adequado número de horas de sono por 24 horas, numa base regular, para a promoção de uma saúde óptima em crianças e adolescentes dos 4 meses aos 18 anos. Referem a existência de uma variabilidade individual nas necessidades de sono, que é influenciada por factores genéticos, comportamentais, médicos e ambientais, sendo necessária mais investigação científica para uma melhor compreensão dos mecanismos reguladores do sono.

Com base na análise efectuada os peritos recomendam as seguintes horas de duração de sono, numa base regular, com vista à promoção de uma saúde óptima:

  • Lactentes dos 4† aos 12 meses: 12 a 16 horas por 24 horas (incluindo sestas)

  • Crianças de 1 a 2 anos: 11 a 14 horas por 24 horas (incluindo sestas)

  • Crianças de 3 a 5 anos: 10 a 13 horas por 24 horas (incluindo sestas)

  • Crianças de 6 a 12 anos: 9 a 12 horas por 24 horas

  • Adolescentes de 13 a 18 anos: 8 a 10 horas por 24 horas

† – Não foram contempladas nestas recomendações idades inferiores a 4 meses devido a uma ampla variação dos normais padrões e duração de sono nesta faixa etária, bem como à insuficiente evidência científica de associação com consequências na saúde.

Concluiu o painel de peritos que existe clara evidência científica de que dormir o número de horas recomendadas numa base regular está associado a melhores resultados na saúde nomeadamente a nível da atenção, comportamento, aprendizagem, memória, regulação emocional, qualidade de vida e saúde mental e física.

Por outro lado, um número de horas de sono inferior às recomendadas está associado a distúrbios de atenção, do comportamento e da aprendizagem, bem como a risco aumentado de acidentes, traumatismos, hipertensão arterial, obesidade, diabetes e depressão e, nos adolescentes, a risco aumentado de lesões auto-inflingidas, ideação suicida e tentativas de suicídio.

Encontraram ainda evidência científica de que dormir mais horas do que as recomendadas pode estar associado a consequências adversas na saúde como hipertensão, obesidade e distúrbios mentais.

Por fim, recomendam que crianças e adolescentes com sono deficitário ou excessivo deverão ser avaliados pelo médico assistente para exclusão de um possível distúrbio do sono.

Para além destas recomendações, a AAP recomenda que todos os ecrãs sejam desligados 30 minutos antes de deitar e que televisão, computadores e outros ecrãs não devem ser permitidos nos quartos das crianças e adolescentes. Para lactentes e crianças pequenas, o estabelecimento de uma rotina de deitar é importante para assegurar que durmam o suficiente em cada noite.


Referência bibliográfica: Paruthi S, Brooks LJ, D’Ambrosio C, Hall WA, Kotagal S, Lloyd RM, Malow BA, Maski K, Nichols C, Quan SF, Rosen CL, Troester MM, Wise MS. Recommended amount of sleep for pediatric populations: a consensus statement of the American Academy of Sleep Medicine. J Clin Sleep Med 2016;12(6):785–786.

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