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O MEU FILHO TEM DISLEXIA- TESTEMUNHO DE PAIS


A relação entre a linguagem e a aquisição da leitura e escrita desde há muito tempo que é estudada, sendo atualmente inequívoca a importância das competências linguísticas para o sucesso académico.

Joana e António Pires, pais do Francisco, contam-nos a sua história: “Quando o Francisco tinha 3 anos, falava pouco e mal se percebia. Nós, pais, percebíamos porque íamos por tentativas ao encontro do que ele queria dizer. No pré-escolar, sentia-se um desinteresse total por qualquer trabalho que se relacionasse com letras. No último ano de pré-escolar, quando trazia para casa uma folha com uma letra por semana, coisas básicas como desenhar a letra, o nosso filho sentia muitas dificuldades e desinteresse. Achávamos que era imaturidade e próprio da idade”.

Carolina Mota, mãe do Mateus, relata-nos uma experiência idêntica: “O Mateus tinha 3 anos e ainda não falava quase nada, usava apenas as palavras básicas. Como era o primeiro filho não liguei muito e por vezes até achava engraçado, uma vez que ele tinha a sua própria linguagem. Algum tempo depois, decidi começar a fazer Terapia da Fala. Ele tinha terapia uma vez por semana. Aos 5 anos, por indicação de uma amiga da área, o Mateus foi avaliado por uma Terapeuta da Fala do Diferenças, tendo-se concluído que apresentava problemas na área fonológica”.

A Fonologia é uma das áreas da Linguagem e está diretamente relacionada com a aprendizagem da leitura e da escrita. As explicações para a origem da Dislexia (designada atualmente pelo DSM-5 como Perturbação Específica da Aprendizagem da Leitura) que foram avançadas nos anos 20 do século passado, e que continuaram a ser consideradas até recentemente, sustentavam que os défices de perceção visual eram os responsáveis pela inversão das letras e das palavras que caracterizariam esta patologia. As pesquisas subsequentes demonstraram que o défice responsável está no sistema linguístico. Em 2003, a Associação Internacional de Dislexia adotou a seguinte definição: “Dislexia é uma incapacidade específica de aprendizagem, de origem neurobiológica. É caracterizada por dificuldades na correção e/ou fluência na leitura de palavras e por baixa competência leitora e ortográfica. Estas dificuldades resultam de um Défice Fonológico, inesperado, em relação às outras capacidades cognitivas e às condições educativas. Secundariamente, podem surgir dificuldades de compreensão leitora, experiência de leitura reduzida que pode impedir o desenvolvimento do vocabulário e dos conhecimentos gerais”.

Quando existem dificuldades na aquisição da linguagem em idade pré-escolar, é crucial que seja feita uma avaliação e se inicie a intervenção antes da entrada no 1º ciclo.

Os pais do Francisco evidenciam as dificuldades encontradas pelo filho na escola: “Mais tarde, quando ingressou no 1° ano, as dificuldades agudizaram-se ao nível do português. Terminou o ano sem saber ler nem escrever. Em casa era um desespero, não o conseguíamos motivar de maneira nenhuma. Havia uma resistência, uma tristeza nele que não conseguíamos contrariar. Procurámos ajuda a nível psicológico mas diziam-nos que era tudo uma questão emocional, uma questão de motivação”.

Também Mateus revelou dificuldades na entrada para o 1º ano: ”Após a avaliação no Diferenças, o Mateus iniciou Terapia da Fala duas vezes por semana e em casa trabalhávamos bastante em conjunto. Quando o Mateus tinha 6 anos, por motivos pessoais fomos viver para o Porto e passou a ser acompanhado no Centro de Desenvolvimento Infantil do Porto (parceiro do Diferenças) pela Dr.ª Ângela Nogueira. No final do primeiro ano, a leitura ainda era lenta, feita sílaba a sílaba e juntava muito as palavras enquanto lia. Na escrita trocava e omitia algumas letras. Durante o segundo ano melhorou bastante a leitura, continua a haver algumas trocas de sons e erros na escrita mas nada do que era no passado. Ao longo destes 3 anos tem sido impressionante a evolução do Mateus. Atualmente já se entende tudo o que diz e ele percebe quando diz algo errado, tentando autocorrigir-se”.

No 2º ano os pais do Francisco continuavam à procura de uma resposta para as dificuldades do seu filho: “Quando entrou no 2° ano, as dificuldades continuaram mas aprendeu a ler e a escrever com muitos erros, muitas trocas de letras. Achávamos estranhas essas trocas constantes, por mais que o corrigíssemos essas trocas persistiam. Ao nível da linguagem, também tinha muitas dificuldades em se exprimir, em relatar uma determinada situação que tivesse acontecido. Na escola tinha apoio diário e mesmo assim as dificuldades continuavam”. Quando entrou no 3° ano, um ano bastante exigente, o apoio continuou e as dificuldades também. Achávamos muito estranho o nosso filho no 3° ano não saber os dias da semana, os meses do ano, as estações do ano, até mesmo a data de aniversário, conhecimentos básicos, julgávamos nós. Não resolvia nenhum exercício sozinho, lia mas não resolvia, mas se nós lêssemos o exercício, por exemplo a matemática, aí já o entendia e resolvia. Foi então que procurámos o apoio de uma Terapeuta da Fala, que após alguns testes, diagnosticou uma Perturbação da Linguagem, a qual está na base das dificuldades de aprendizagem (Dislexia e Disortografia). A partir desse momento, todas as dificuldades do nosso filho começaram a fazer sentido, as trocas constantes das letras quer na escrita quer na fala, o ler e não entender o que lia, os dias da semana, meses do ano. Ele sabia, tínhamos era que começar a dizer e ele continuava. Digamos que tem os conhecimentos mal armazenados na cabeça dele. Agora acabaram as discussões, os berros. Agora compreendemos o nosso filho e estamos a tentar ajudá-lo o melhor que sabemos. Os progressos são lentos mas já se começaram a notar com a ajuda de todos, pais, apoio na escola e Terapia da Fala”.

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